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quarta-feira, junho 29, 2005

O verdadeiro profissionalismo


OPINIÃO

Ricardo de Almeida Prado Xavier *

As fábulas de Esopo, que viveu no Século 6º antes de Cristo, atravessam os tempos com a simplicidade que as torna imediatamente compreensíveis pelas crianças e a sabedoria que as revelam úteis para aqueles que querem conduzir melhor suas vidas e negócios. Uma delas conta a relação entre o cavalo e seu tratador, que passava todo o tempo a analisar, limpar e escovar o animal, mas, sorrateiramente, roubava parte da aveia destinada à sua alimentação. “Que pena! Se o senhor realmente desejasse me ver em boas condições, me acariciaria menos e me alimentaria mais”, disse o cavalo.
A moral da história é que se deve desconfiar de quem procura agradar, mas deixa de fazer o bem para o outro; são aqueles que procuram disfarçar com tarefas menores o mal que fazem ou a omissão em cumprir com seu dever.
No que diz respeito à carreira, muito se pode tirar dessa fábula tão curta e contundente. Podemos mencionar pelo menos três ângulos que merecem uma boa discussão: a ética, o serviço ao cliente e o direcionamento dos esforços.
Ética – fazer o que deve ser feito. O tratador deixava de dar a quantidade certa de ração ao cavalo, numa flagrante derrapada ética. A serviço de uma organização ou pessoa, o profissional tem a obrigação de fazer o que deve ser feito para a realização dos objetivos da função. Quando ele se furta a fazer o melhor, está lesando o cliente e de nada adiantarão eventuais agrados e bajulações. O exercício zeloso de uma função (escovar o cavalo) não exime o indivíduo da responsabilidade pelas outras (dar ração integral) e muito menos autoriza uma ação ilícita, como o roubo da ração. Mais cedo ou mais tarde, seu truque será descoberto e alguém dirá: “Que pena!Você foi desonesto.”
Exemplos de comportamentos não-éticos: sonegar informação adequada para que o colega resolva um problema; deixar de fazer o melhor negócio para o cliente ou empregador, por neglicência, preguiça, interesse pessoal; usar recursos do cliente ou do empregador para objetivos pessoais.
Além dos aspectos éticos envolvido, há também o da relação de prestação de serviço ao cliente. O tratador escovava o cavalo com zelo, mas não fazia aquilo que mais serviria ao animal. Para prestar um serviço de real valor para um empregador ou cliente, antes de mais nada temos de perceber o que efetivamente é mais útil.
Isso quer dizer que falha o profissional que: faz as coisas da própria cabeça, relutando em aceitar as diretrizes da empresa; não se preocupa em identificar com precisão a necessidade do cliente; direciona seus esforços e talento para aquilo que quer e não para aquilo que é melhor. Eis que um dia o cliente simplesmente desaparece ou o empregador apresenta o cartão vermelho. Quem não ajuda, atrapalha!
Direcionamento dos esforços: tratar bem e alisar. O profissional efetivamente interessado em ser empregável e promovível preocupa-se, primeiramente, em não lesar aquele a quem está servindo, isto é, em não roubar a ração do cavalo. Segundo busca ser efetivamente útil, isto é, procura fazer as coisas corretas e mais fundamentais, de valor e necessidade vital. Por fim, não custa nada escovar o cavalo, isto é, procura colocar um “molho” especial, oferecer um plus, fazer coisas que agradam. Com isso sua visibilidade tende a aumentar e sua reputação positiva espalha-se. Quando a empresa o promove está cuidando do bem dela própria – e nada melhor que o interesse próprio para levar os outros a nos levarem ao crescimento.
O profissional precisa lembrar-se sempre – e principalmente – de que tudo o que faz para o bem ou para o mal, acaba aparecendo. Embora nem sempre se perceba isso, todos estão em vitrines de alta visibilidade, especialmente para aqueles que estão mais próximos. Quem faz o certo terá boas referências de ex-colegas, ex-chefes. Quanto a quem não preocupa em plantar o bem, que referências pode esperar?
* Administrador de Empresas, é presidente da Manager Assessoria em Recursos Humanos – e-mail: ricardoxavier@manager.com.br; site: www.manager.com.br
Artigo extraído do Jornal O Estado de S.Paulo - domingo 26 de junho de 2005

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