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quinta-feira, março 05, 2009

Crise mundial impacta diretamente a atuação da área de RH

Por Patricia Bispo


Desde setembro de 2008, período em que ocorreu o anúncio de concordata do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers, que o mercado internacional sinaliza um momento de crise econômica que afetou diretamente a vida de milhões de empresas em todos os continentes. No Brasil, a crise é sentida e não há como negar, pois no dia-a-dia observa-se um clima tenso e de total atenção para as oscilações das bolsas de valores, pois essas ditarão se haverá ou não redução no quadro funcional, entre outras consequências. Para falar sobre a influência que a crise mundial econômica exercerá nas organizações no Brasil, o RH.com.br entrevistou Valter Pieracciani. Sócio Diretor da Pieracciani Desenvolvimento de Empresas e da Prittchet Rummler Brache do Brasil, líder mundial em gestão da transformação, Pieracciani acompanha de perto como as empresas estão reagindo a esse processo. Ele também atua como gestor no start-up e recuperação de empresas. "A crise mundial resultará em uma nova fase de relacionamento entre os profissionais e seus empregadores", ressalta o consultor, ao acrescentar que existe uma tendência de ocorrer uma evolução positiva nas relações trabalhista, pois as pessoas passarão a ser consideradas como real valor agregado para as empresas. Confira a entrevista na íntegra e boa leitura.

RH.COM.BR - Até que ponto a crise econômica mundial trará momentos negros para o panorama corporativo?
Valter Pieracciani - Temos passado por um grande momento de reordenação, reposicionamento no mercado. Alguns setores estão sentindo mais os impactos do que outros. No entanto, como em qualquer processo de mudança são geradas sensações clássicas de reações adversas. Os efeitos são visíveis e temos monitorado, por exemplo, o setor elétrico, que apresentam indicadores refutáveis. Observamos que as indústrias, as fábricas diminuíram o consumo de energia ao tomarem decisões como férias coletivas para seus funcionários. Não adianta tentar nos enganarmos e dizermos que a crise será branda, que vamos conseguir passar por esse momento sem sentirmos qualquer efeito.

RH - Isso significa que o mercado vai entrar em um momento de "pânico"?
Valter Pieracciani - Como já citei, não adianta fingir que não sentiremos os impactos da crise econômica mundial. Contudo, vamos passar por esse momento delicado porque somos mais adaptáveis às crises. Já vivenciamos, sete, oito momentos históricos nacionais como o que envolveu o ex-presidente da República, Fernando Collor de Melo. Estivemos diante do difícil momento do Plano Collor, onde da noite para o dia os brasileiros tiveram suas poupanças confiscadas. Os brasileiros têm uma habilidade peculiar para gerenciar momentos de crise, mas nem por isso deixamos de sentir os efeitos.

RH - Então, como ficam as empresas que estão no Brasil?
Valter Pieracciani - Não podemos nos isolar do momento de crise mundial e as empresas, de uma forma ou de outra, sentirão os reflexos. Tomemos como exemplo, empresas subsidiárias presentes no Brasil. Muitas delas vão bem em sua produção, em seus resultados. Contudo, em outros países os resultados não são satisfatórios. O que ocorre, então? Demissões, pois essas são gerenciadas pelo valor das ações e "cortar" pessoas reflete nas bolsas de valores.

RH - Será que essa crise só trará resultados negativos?
Valter Pieracciani - Pessoalmente, tanto eu quanto minha equipe temos uma visão criticada e até mesmo considerada romântica por outros colegas da área. Acredito que essa crise mundial resultará em uma nova fase de relacionamento entre os profissionais e seus empregadores. Meu sentimento é que haverá uma mudança de comportamento que marcará a Era da economia Real, ou seja, haverá uma real conscientização geral de valor no trabalho das pessoas e essas, por sua vez, serão vistas como valor agregado para as organizações. Observaremos sinais de mudanças nas relações entre empregado e empregador, pois haverá uma tendência para o fim da grande "onda de espuma", marcada por valores irreais. E quando isso ocorrer, as relações trabalhistas passarão por um processo evolutivo muito significativo e positivo.

RH - A participação efetiva das lideranças influenciará o futuro das organizações?
Valter Pieracciani - O gestor sempre exerceu um papel fundamental nas empresas e hoje, diante da crise, sua presença tornou-se duas vezes mais importante. Isso porque ele terá a responsabilidade de redesenhar a relação com sua equipe, ter percepção de futuro e não olhar apenas para os dois últimos anos. Ele precisará ter mais coragem para ousar, correr riscos e tornar suas posições mais claras diante dos liderados. Quando a espuma provocada pela crise econômica mundial desaparecer, as empresas precisarão marcar posições no mercado e nesse momento os líderes especiais irão emergir no momento exato da crise. Para as lideranças de todos os níveis será dado um papel absurdamente importante: o de revelar o lado construtivo, o de influenciar suas equipes para que encontrem soluções criativas. O segundo ponto que destacaria em relação aos líderes é que a crise gera mudanças. Sendo assim, o momento exigirá gestores de mudanças e não agentes passivos.

RH - Como atuarão os gestores de mudanças na prática?
Valter Pieracciani - São poucos os gestores que realmente conseguem lidar com o processo de mudanças e que, consequentemente, consegue lidar com as diferentes reações dos liderados. Em um momento de crise, há liderados que podem manifestar em diferentes momentos de reações como, por exemplo: o sentimento de traição pessoal, pois não sabe o que está ocorrendo e imagina que esconde algo dele; o sentimento de negação, ou seja, aquele funcionário que diz que não tem nada a ver com o problema, com a crise, possui uma reação de crise de identidade e fica em cima do muro; e por último o colaborador que busca uma solução para determinado problema. O gestor deve ter a sensibilidade de perceber em qual fase seus subordinados encontram-se. Só assim, o líder poderá tratar sua equipe adequadamente, propiciando que as soluções sejam implantadas e os problemas solucionados. Isso refletirá diretamente na performance dos liderados.

RH - De que maneira a área de Recursos Humanos pode apoiar as organizações nesse momento de crise?
Valter Pieracciani - O RH por natureza é uma das lideranças que me refiro nesse contexto de crise mundial, pois ele tem um forte poder de influenciar, possui a responsabilidade dobrada, uma vez que é capaz de equilibrar as tomadas de decisão e auxiliar os demais líderes nesse momento. A área de Recursos Humanos é um grande diferencial em um momento de turbulência, porque é a mais capacitada para lidar com os processos de mudança. Os gestores técnicos são os menos experimentados em momentos de mudança e nesse momento entra em cena o profissional de Recursos Humanos.

RH - Em sua opinião, quais os principais processos de RH que serão afetados pela crise econômica mundial?
Valter Pieracciani - Tenho a oportunidade de observar que a comunicação interna será um processo de comunicação muito afetado, pois em um momento de crise a demanda por informações confiáveis aumenta muito. Em uma fase de mudança, muitos se fecham e não falam. A demanda das equipes aumenta e isso impacta diretamente no clima organizacional, na produtividade e na perda de talentos. Os melhores nadadores são os primeiros a pularem do barco e isso implica em um aumento da rotatividade. Um segundo processo que sentirá muito o impacto da crise será o desligamento de profissionais, pois existem formas eficazes e muitas empresas não prestam muita atenção e realizam uma demissão sem responsabilidade e através de pessoas sem competências adequadas. Será preciso rever a forma de desligar os funcionários, pois esse é um processo crítico que impacta no mercado, prejudica a empresa junto à sociedade, diante até mesmo do próprio Governo, seja municipal, estadual ou federal. Além disso, existe outro agravante: o pânico que pode ser gerado internamente, pois quem fica na empresa fica inseguro e nesse momento quem ganha espaço é a rádio peão, os "profetas do Apocalipse", os boatos, os ruídos nos corredores.

RH - Quais as suas expectativas para o RH brasileiro, diante da crise econômica mundial?
Valter Pieracciani - Para o profissional de Recursos Humanos visualizo uma barra de exigências que subirá a cada dia. Quem é bom terá que ser melhor. Será preciso agregar valor e quatro competências serão destacadas e valorizadas: flexibilidade; capacidade de inovação, tolerância ao risco e saber lidar com o estresse, pois nunca uma epidemia matou tanto quanto essa. Aliás, os reflexos do estresse é que comprometem a vida das pessoas e se manifesta através de problemas cardíacos, pressão alta, enxaquecas, gastrites, enfim, uma série e consequências que afetam as pessoas.

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