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sexta-feira, março 16, 2012

Por que as empresas brasileiras não encontram os profissionais que procuram?

Por Patricia Bispo

Todos os dias, os canais de comunicação veiculam notícias sobre o mercado de trabalho. Nesse contexto, apresentam-se os dois lados da moeda. No primeiro, encontram-se os trabalhadores que formam filas quilométricas em busca de chance para mostrarem seus valores e garantirem uma vida digna. Do outro, estão as empresas que afirmam enfrentar um sério problema: não encontram profissionais para preencherem as vagas que disponibilizam. Essa situação torna-se conflitante, pois as organizações precisam de profissionais e esses não consegue o tão sonhado emprego. Alguns denominam esse quadro como "apagão de talentos", enquanto que outros preferem referir-se a essa situação como falta de mão de obra especializada para atender às necessidades das organizações. Para falar sobre esse assunto, o RH.com.br entrevistou Jerônimo Mendes consultor e palestrante nas áreas de negócios, empreendedorismo, mudança organizacional, comportamento e mundo corporativo. Para ele, quando a economia está aquecida, o mercado melhora de maneira generalizada e a demanda por mão de obra especializada aumenta. Quem está mais preparado possui mais oportunidades e a lei continua a mesma: a escassez encarece o "produto". "Existem 3,5 milhões de jovens desempregados no Brasil, segundo dados do último censo do IBGE. Das duas uma: ou os jovens não querem trabalhar ou os programas de retenção e qualificação profissional estão equivocados", alerta Jerônimo Mendes. Confira a entrevista na íntegra e tenha uma agradável leitura!



RH.com.br - A expressão "apagão de talentos" tornou-se tão constante no meio organizacional que, quando surge em determinadas conversas, algumas pessoas preferem mudar de assunto. Isso significa que a preocupação com a falta da mão de obra qualificada perde sua força e deixa de ser uma preocupação para as empresas?
Jerônimo Mendes - Particularmente, não gosto da expressão "apagão de talentos". Prefiro escassez de mão de obra qualificada. Talento todo ser humano dispõe de um, portanto, não deveria faltar. O que acontece é que o mercado está aquecido e isso provoca uma competição mais acirrada por talentos. Em períodos econômicos mais favoráveis, o mercado melhora de maneira generalizada e a demanda por mão de obra especializada aumenta. Quem está mais preparado, naturalmente, tem mais oportunidades e, é óbvio, a lei continua a mesma: a escassez encarece o "produto". Quem tem qualificação procura uma nova oportunidade de melhoria e quem precisa dela, paga melhor. É simples assim.

RH - Pessoalmente, o senhor acredita que existe um apagão de talentos no Brasil ou as empresas não estão sabendo atrair os profissionais que tanto necessitam?
Jerônimo Mendes - Procuro sempre olhar sob dois pontos de vista diferentes: o primeiro é o da competição natural em função da economia aquecida; o segundo é o fato de que as empresas não se preparam para isso. Em geral, elas trabalham no limite. Quando acontece algo inesperado, as empresas não conseguem repor a mão de obra na mesma velocidade. Leva tempo para se qualificar um profissional. Além do mais, poucas empresas trabalham com o conceito puro de RH para o desenvolvimento da mão de obra. Existem 3,5 milhões de jovens desempregados no Brasil, segundo dados do último censo do IBGE. Das duas uma: ou os jovens não querem trabalhar ou os programas de retenção e qualificação profissional estão equivocados.

RH - Investir no treinamento interno não seria uma alternativa de driblar essa falta de profissionais qualificados?
Jerônimo Mendes - O treinamento ajuda, porém, em tempos de economia aquecida torna-se mais difícil retirar os profissionais da linha de frente para qualificá-los, por isso, o treinamento demanda planejamento. Quando o RH é atuante e a empresa prioriza a qualificação interna, o treinamento pode promover excelentes resultados. Entretanto, devemos lembrar que o ser humano é ambicioso e a lealdade já não é mais um atributo a ser considerado na retenção de talentos. É necessário muito mais do que salário para segurar alguém na empresa.

RH -
Em relação aos novos talentos que ingressam no mercado, outra alternativa para as empresas seria ter um pouco mais de paciência com esse público e acreditar mais no potencial dos jovens que não possuem experiência?
Jerônimo Mendes - Infelizmente, as empresas não podem esperar, esse é um problema sério. O ideal seria acreditar no público minimamente qualificado e investir um pouco mais nele. Em empresas de médio e grande porte isso é feito através de programas de trainee, banco de talentos, por exemplo. Empresas de micro e pequeno porte já não podem contar com essa facilidade considerando que o investimento impacta diretamente no custo do produto ou serviço. Contudo, é uma posição que muitas empresas já estão adotando.

RH - Quais os efeitos que o apagão de talentos traz para as organizações e, consequentemente, para a economia nacional?
Jerônimo Mendes - Todos perdem. Os profissionais perdem a oportunidade de se recolocar e progredir; as empresas, de produzir e lucrar mais; os governos, de arrecadar mais.

RH -
Esse quadro de falta de mão de obra qualificada ainda vai durar por muito tempo?
Jerônimo Mendes - Esse fenômeno é cíclico, ocorre de tempos em tempos. Note que em alguns períodos, quando o mercado está aquecido, falta mão de obra qualificada. Em outros tempos, existe excesso de mão de obra qualificada e não é possível absorver todo o efetivo. Temos a Copa Mundial em 2014 e as Olimpíadas em 2016 e isso vai gerar ainda mais escassez. Além do mais, o Brasil é um dos poucos países do mundo com chances promissoras de crescimento, portanto, não existe sinal de que a competição diminua. O inverso é verdadeiro, portanto, quanto mais cedo as empresas se preocuparem com isso, melhor.

RH - Quando se fala em contratação de talentos, automaticamente nos reportamos à atuação do profissional de Recursos Humanos. Essa é a "hora e a vez do RH" fincar suas raízes como integrante das estratégias organizacionais?
Jerônimo Mendes - Para suprir essa deficiência, as empresas precisam de um RH mais atuante e menos operacional. É o que se chama de RH estratégico. Empresas que não priorizam a qualificação da mão de obra interna e o desenvolvimento da mão de obra futura não podem reclamar. Apesar de toda a tecnologia disponível, o recurso mais importante continua sendo o ser humano. Quando se trata do operacional, mais voltado para a produção, concordo que o problema é generalizado, entretanto, em cargos e funções intermediárias e também em nível de liderança, é possível desenvolver um bom trabalho interno para evitar a escassez. Na prática, as empresas reclamam da escassez, mas não fazem nada para mudar a realidade em que se encontram.

RH - Por que a atuação da área de RH fará o diferencial, num momento em que a escassez de talentos evidencia-se de uma forma tão expressiva?
Jerônimo Mendes - Em entrevista anterior ao RH.com.br, eu afirmei que sou um defensor incondicional da área de Recursos Humanos. Eu prefiro RH em vez de DP que é sempre pejorativo. Na minha modesta opinião, o RH nunca perdeu a sua importância estratégia. O que acontece é que em algumas empresas, o RH tem mais importância e em outras, menos. Em momentos de escassez é que se nota a diferença entre ser um RH ou um DP. Quando se eleva a importância do RH, as coisas fluem naturalmente, principalmente quando você tem um líder efetivo na área, entretanto, não basta mudar a sigla da área, é preciso conceder autoridade e responsabilidade para que as coisas aconteçam de fato.

RH - O que o senhor sugere para o gestor de RH melhorar essa situação dentro da empresa?
Jerônimo Mendes - Encare o problema de frente e pare de carregar a empresa nas costas. Prepare um plano de ação específico para apresentar à diretoria e o coloque em prática. Nenhum problema se resolve sem ações concretas, de acordo com o tratamento que o problema merece.

RH - Qual a mensagem que o senhor deixa para os profissionais de RH que têm a oportunidade de consolidar a contribuição da área para o mundo dos negócios?
Jerônimo Mendes - Quanto mais operacional você for, menos estratégico você será. Pensar com cabeça de RH significa ir além da burocracia. Em tempos de competição acirrada por mão de obra específica e qualificada, o RH é vital para as organizações. Planejar o futuro ainda continua sendo a melhor forma de evitar a escassez de mão de obra qualificada. Aliás, há um provérbio chinês que também vale para o RH: "quem não sabe para onde vai, qualquer lugar serve", portanto pense nisso e aja diferente.


Patrícia BispoFormada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Católica de Pernambuco/Unicap. Atuou durante dez anos em Assessoria Política, especificamente na Câmara Municipal do Recife e na Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco. Atualmente, trabalha na Atodigital.com, sendo jornalista responsável pelos sites: www.rh.com.br, www.portodegalinhas.com.br e www.guiatamandare.com.br.

Pizza Hut: a turma acima dos 60 anos coloca a mão na “massa”

Por Patricia Bispo

Dados apresentados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelam que a expectativa de vida dos brasileiros aumentou cerca de três anos entre 1999 e 2009. Hoje, espera-se que uma pessoa viva no mínimo 73,1 anos. Essa realidade reflete em toda a sociedade, inclusive no âmbito organizacional. Hoje, por exemplo, grandes empresas investem na iniciativa de contratar profissionais que já se aposentaram e que se encontram acima dos 60 anos.

Uma empresa com larga experiência na contratação de pessoas que fazem parte da "turma da boa idade" é a Pizza Hut, que em 2003 instituiu o Programa Atividade direcionado para recolocação de profissionais que já se encontram com mais de 60 anos. Inclusive, a iniciativa tem como base que um dos fatores mais importantes para a qualidade de vida do ser humano é a saúde mental. E isso, por sua vez, só acontece quando a pessoa encontra-se ativa, exercendo seus dons, aplicando sua experiência, exercitando a criatividade, ensinando, aprendendo, comunicando-se, sentindo-se útil e produtiva.

De acordo com Daniella Cristina, gerente de RH da Pizza Hut de São Paulo, o profissional interessado em concorrer a uma oportunidade através do Programa Atividade deve realizar seu cadastro através do site da empresa - http://www.pizzahutsp.com.br/trabalhe-conosco/ durante todo o decorrer do ano. Além disso, exista a alternativa de deixar o currículo em uma das 18 unidades da marca na Grande São Paulo. Esses cadastramentos, por sua vez, passarão a fazer parte do banco de dados da empresa e serão consultados sempre que a organização necessitar contratar um novo colaborador. E as vantagens para quem ingressa na organização, complementa a gerente de RH, incluem: plano de saúde e odontológico, cesta básica, remuneração acima da média do mercado, seguro de vida e alimentação no local de trabalho.

Vale, ainda, lembrar que para participar do Programa Atividade é preciso ter o ensino médio (antigo segundo grau) e ter algumas competências necessárias ao negócio como: capacidade para trabalhar em equipe, foco na qualidade da experiência do consumidor, comunicação eficaz, flexibilidade e criatividade. Outro fator relevante é que o candidato não precisa ter experiência anterior.

"O processo seletivo do Programa Atividade é muito próximo aos demais processos seletivos da Pizza Hut. A entrevista sempre é feita com o gerente do restaurante e no local onde eles irão trabalhar, isso para que ambos analisem o interesse. Caso a pessoa seja admitida, será encaminhada para o processo de exames e de documentação", explica Daniella Cristina, ao acrescentar que toda a condução do Atividade é realizada pela área de Recursos Humanos da empresa.
Após a contratação - Ao ser questionada qual o procedimento que a área de Recursos Humanos adota, após a contratação do profissional, a gerente de RH afirma que o integrante do Programa Atividade passa por um processo de treinamento como os demais funcionários que estão iniciando na empresa. Nos dois primeiros dias, o recém-contratado ingressa em um treinamento teórico, no qual participa de palestras sobre diversos assuntos como procedimentos de produtos, histórico da empresa, atendimento ao cliente, manuseio de alimentos, entre outros assuntos. Após essa etapa, o funcionário inicia seu treinamento no restaurante, onde conhece todas as áreas de trabalho com o acompanhamento do gerente ou do instrutor.

Em relação ao convívio dos funcionários acima dos 60 anos com os demais colaboradores que atuam na Pizza Hut, Daniella Cristina cita que a aceitação costuma ser muito positiva em relação à equipe, pois os colaboradores da empresa conseguem entender o objetivo do programa e enxergam no profissional experiente uma pessoa que agrega valores para a organização.

O que mudou na empresa? - Um fato que chamou a atenção da empresa é que após a instituição do Programa Atividade, os restaurantes passaram a ter mais profissionais que auxiliam a equipe. Para a direção da Pizza Hut, a pessoa que integra o Programa Atividade não é um simples funcionário, mas uma pessoa com experiência de vida, um exemplo que auxilia todos os demais da equipe em relação à interação, ao trabalho com clientes, além de ser capaz de dar bons conselhos para quem está iniciando a vida.

"A Pizza Hut enxerga o Programa Atividade como um trabalho de inclusão social muito importante, uma vez que, mesmo que esses profissionais tenham muito conhecimento e experiência, geralmente a sociedade costuma excluí-lo do mercado de trabalho. Enxergam essas pessoas como incapazes de colaborar com o resultado da empresa, o que é um grande engano", conclui Daniella Cristina, ao mostrar visível sinal de orgulho ao contribuir com essa iniciativa.


Patrícia BispoFormada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Católica de Pernambuco/Unicap. Atuou durante dez anos em Assessoria Política, especificamente na Câmara Municipal do Recife e na Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco. Atualmente, trabalha na Atodigital.com, sendo jornalista responsável pelos sites: www.rh.com.br, www.portodegalinhas.com.br e www.guiatamandare.com.br.